Sou esposa de um jogador e comprador compulsivo em
recuperação. Frequento a irmandade de JOG-ANON há 3 anos. Somos
casados há 30 anos. Meu marido jogava na loto, sena, mega-sena eu
sabia que ele jogava, mas imaginava que fossem valores irrisórios.
Isso não interferia em sua presença física em casa, porém sua
atenção estava sempre distante... Além disso, ele comprava
compulsivamente especialmente em supermercados, “aproveitando” ao
máximo as promoções. Com isso ele comprava quantidades de alimentos
muito superiores às nossas necessidades, com a justificativa de
estar economizando. Eu sempre trabalhei e lhe dava todo o dinheiro.
As contas da casa também ficavam a cargo dele, que é um
profissional competente, homem de negócios, de números, de
planejamento, além de ser um excelente marido e pai. Por vezes, ele
relatava que as contas da casa estavam difíceis e por inúmeras
vezes eu fiz empréstimos pessoais para melhorar nossa situação.
Percebi depois que eu havia financiado o jogo. Ele se aposentou e
ficou em casa, por 2 anos. Nesse período, nossa filha começou a
perceber suas constantes saídas, para fazer o jogo e me alertou.
Fomos vasculhar as coisas dele e encontramos inúmeros cartões de
apostas diárias, em valores consideráveis. Daí até descobrir a
extensão do problema foi um caminho muito doloroso. Havia 17 anos
que ele jogava dessa forma. Ele chegou a ter 37 cartões de crédito;
pagava apenas o valor mínimo - o que não o fazia uma pessoa
oficialmente devedora - e o saldo se multiplicava exponencialmente
e a dívida se acumulava. Era uma maratona intelectual impensável.
Ele fazia o “jogo dos cartões” e empréstimos infindáveis, na
certeza de que ganharia uma bolada na loteria e tudo se resolveria,
sem que eu nem viesse a saber. Eu vivi um turbilhão de dúvidas, de
angústia, de desconfiança, de raiva. Senti-me traída, pensei que
ele pudesse ter outra família, em razão da enorme dívida que se
acumulou, eu pensava que toda a minha vida com ele havia sido uma
farsa, uma enorme mentira. Em conversa com minha psicóloga,
descobri que se tratava de um comportamento compulsivo, que
necessitava de ajuda. Uns quinze dias antes dessa triste
descoberta, uma colega de trabalho havia me confidenciado sobre sua
situação, de esposa de jogador compulsivo e sobre a existência das
irmandades JA (Jogadores Anônimos) e JOG-ANON. Assim, com essa
prévia e providencial informação a qual tenho certeza que me foi
concedida pelo meu Poder Superior (a quem chamo de Deus), disse ao
meu marido que a única maneira de mantermos nosso casamento, seria
ele buscar ajuda e tratamento. Felizmente ele procurou um
psiquiatra, fez terapia psicológica e passou a frequentar grupos de
JA de 2ªs às 5ªs feiras. Eu o acompanhei desde o início,
frequentando grupos de JOG-ANON e tenho cuidado de minha
recuperação. Hoje sei que a compulsão pelo jogo ou compras, ou
qualquer outra, é uma doença, que não tem cura, mas controle.
Demorou até eu começar a digerir, a entender tudo isso. Passei a
cuidar melhor de mim mesma, e dar mais valor às minhas próprias
necessidades, meus desejos e tirar o meu marido do centro de minhas
atenções. Por concordância dele, eu administro o seu dinheiro e as
compras e contas da casa. Tivemos orientação das duas irmandades JA
e JOG-ANON sobre como lidar com a questão financeira. O meu marido
tem hoje um novo trabalho que o ocupa e ajuda no pagamento das
dívidas. Agradeço imensamente à irmandade de JOG-ANON porque
encontrei carinho, ajuda e orientação para o meu problema
ocasionado pelo jogo compulsivo. Nossos 3 filhos acompanharam nossa
luta e nos apoiam totalmente. Hoje presto serviço me oferecendo
para acompanhar e transmitir o programa dos 12 passos de
recuperação às pessoas que procuram a sala de JOG-ANON e se sentem
traídas e desesperadas como eu estava. Tenho certeza de que a
frequência às reuniões tem me dado a serenidade que necessito para
viver bem. SNR.